quinta-feira, 26 de março de 2009


O COITO ÉTICO
"O Desejo é desejo do absolutamente Outro. Para além da fome que satisfaz, da sede que se mata e dos sentidos que se apaziguam." (Totalidade e Infinito, E.Lévinas)


Senhorita, que manda no tempo e na meteorologia da alma,
Obrigado por acreditar em mim antes da manhã enluarada.
Na confiança e na firmeza alvoreceu o primeiro coito ético
Da natureza humana e transitória que busca saciar-se logo.
Ainda ardem a noite e o sol imersos no oceano de espuma.
Emergem em brasa intercaladamente pontas de corpo mole
Para lembrar que aqui só há um compromisso: nossas vidas.
Nada escapará ao poema e à solução mais difícil: não gozar.
Senhorita, não chegaremos a eles, porque não somos céticos.
Temos de crer no amor para não acordarmos mais tão sós.
Lembre-se dos cheiros, das luzes trêmulas das velas à beira.
Não se esqueça que lemos nos olhos todas as novas palavras
E soltamos balões emplumados quando pensávamos em falar.
Registre e grite para si mesma que seu sorriso voltou ao rosto
E que se sentiu leve a ponto de levitar no bem-estar do outro.

Para tanto estou na tua vida
Permanecerei se permitires
Para tanto para tudo servirei
Tira teu desejo de minha íris.

Senhorita, a lua ainda não nos convidou para a festa da noite
E o tropel da carruagem já ressoa no penhasco da penumbra.
Um raio de luz fez escancarar o portal de estilo renascentista
Por onde esvoaçaram todas as borboletas no afeto produzidas.
Subimos rampas íngremes para adivinhar a força dos cavalos,
Atingimos os celeiros secretos do céu onde esqueceram a paz.
Não, Senhorita, os guardiões não nos receberam, tão ocupados
Estão com a insânia de quem pensa pra amar, com tanta ânsia.
Desembarcamos, lembra Senhorita?, tudo o que nos faz artistas
Para realizar a mais longa e inesquecível noite de nossas vidas.
A magia da espera firme e a deliciosa disciplina dos iniciados...
Isto que nasce após o tédio e o desgaste dos amores bastardos.
No resguardo da montanha, abrimos o baú dos mitos sem uso
Para ofertar a quem vier depois o que o amor não lhe pôde dar
De tanto matar a tentação em seu aspecto menor e incompleto.

Estou na tua vida portanto
Permanecerei se permitires
Agora a servirei por encanto
Tira teu desejo de minha íris.

A lua dança sobre o solo opulento de uma noite inventada
E nos estrados do celeiro a filha da estirpe selene volteia,
Virginal como as cortesãs, mundana feito santas estranhas.
Coreografa um prelúdio de pavanas compostas pelo vento,
Risca uma névoa de pranas como carnal ventania quântica.
Alavancas subatômicas desatam a matéria emaranhada,
Interposta entre tudo que dorme no universo e os sonhos.
Os movimentos paralisam o tempo de lâminas e escamas.
O que penso da duração é a duração do que penso durar
E o que se pode ser na extremidade da elegância é trama,
Tecidos costurados a músculos, flâmula elétrica de nervos.
Seria preciso falar de atos obrigatórios na ética dos deuses,
De faíscas suspensas entre velhos companheiros de armas
E de um rio arcaico que já verteu na antiguidade do futuro
Onde o drama de heróis coagula na certeza humana da paz.

Estou mais na tua vida
Por partes ou inteiro
Coisa na outra contida
Teu desejo, meu anseio.

As poças do óleo de amêndoas vão curando o couro brejeiro.
Os hálitos do celeiro incorporam as propriedades balsâmicas.
A Senhorita respira as essências férteis do fogo e do girassol,
Beijos chegam de todas as paragens como se viessem de reis.
Seu corpo começa a ser colonizado pelo lavrador de emoções;
Ele é um servo de um distante lugar cheio de beleza e ardores
Que traz uma visão nova da responsabilidade e dos cuidados
E vem alargar os horizontes da compreensão de raros desejos.
Da força de suas abordagens nascem a reverência e a cortesia.
Desembarcam de galeras sem bandeiras encomendas de Deus
Para adornar e festejar as fomes e as sedes fundas e sublimes.
Claras chamas sagradas peregrinam pelo recinto e se alastram
Com as endorfinas que fazem vibrar a carne concentrada e nua.
A volúpia está no olhar de âmbar molhado pelas águas tépidas
E o erotismo dorme nos gestos plácidos, entrelaçados e épicos.

Tua vida é um mérito
Dela tomarei partido.
Se puder levar a sério
E se isto fizer sentido.

Para levar-lhe as honras de uma nova vida, trago todas as luas
Até aquelas que não tiveram sentido, que iluminavam em vão
As dores de parcerias desfeitas que esqueceram de se lembrar
Que havia mais a fazer pelo amor do que exigir mais satisfação
E nada ousaram pelo impulso do reencontro, perdoando dívidas
Que não usaram recursos que o passado feliz mantinha vívidos.
A honraria que podemos conceder a nossas vidas é a revolução
Efetivada aqui e agora nesses campos excêntricos e fantásticos
De pétalas de rosas vermelhas na crista de nossas peles úmidas,
Um motim dos desejos destinados ao auge efêmero e à saudade.
Senhorita do amor pirata que assalta as galés da sua descoberta,
A máxima transgressão é o respeito humano e as transparências
Que deixam entrever as saliências do vale translúcido da libido
Coberto dos pomares da psiquê, onde germinam o fruto da ética,
A flor da utopia, o desejo de esperança, o amor pela humanidade.

Se estou na tua ilha
É que inda navego.
Viverei em vigília,
Antes estava cego.

Não sei se é bem devaneio de mudos poetas ou chão de estrelas...
Abaixo dos alumbramentos não há rigidez onde pôr os passos;
Acima dos assoalhos, mesmo no firmamento, não sobra sonho.
Tudo é poeira, éter e massa concentrada, como aliás neste amor
Evanescente e próspero de instantes, pródigo de explosões frias,
Não porque o gozo espera vadio e esquivo no ângulo da concha
Mas por causa dos efeitos introvertidos da languidez do sentido.
Os pontos eróticos se multiplicam a varejo e unem-se em curvas
Onde capotam as intenções apressadas pelo bombear das marés.
Em que lua levitam as nossas individualidades, depois da mistura
Que suplanta egoísmos na exigüidade de sujeito das existências?
Murmúrios são dislexias de amantes que não se complementam
E que só se cumprimentam antes de invadir latifúndios sexuais.
Tu terás a quem amar, tu terás por quem existir, sem ser para ti!
Homem e mulher Ele os criou mas nós revemos os seus sonhos.

No amor pelo outro
Nem mais distingo
Se sou eu esse oco
Que hoje extingo.

O celeiro não é uma ilusão, mas uma mágica nascida calamidade,
Um acaso nascido cansaço, um destino nascido responsabilidade,
Uma liberdade nascida doação, uma morada nascida feminidade,
Uma transcendência nascida fecundidade, infinito nascido rosto,
O erotismo nascido bondade, hospitalidade nascida pressuposto.
O celeiro não é uma ilusão porque o gozo não precede a verdade
Inscrita na condição fraterna de amantes sorrindo numa banheira.
Senhorita, quando me pediu que eu a relaxasse, era o prenúncio
De que nenhuma face pode defrontar-se com outra sem renúncia
A todas as supostas intenções, interesses, quereres e expectativas.
Senhorita, para que serve a filosofia? Para pensar o pensamento
Ou para melhorar a relação entre os seres humanos e o caminho?
Pra que filosofia se faltar a um só alguém abrigo, pão e carinho?
Na banheira com nossas dores imersas e suspensas é que eu vejo
A fome de mais fome, a sede de mais sede, desejo de mais desejo.

A vida que recebo
E nesta noite aflora
Tem mais segredo
Que luz da aurora.

É estio de tempestades o corpo em brasa, paciente, sendo alterado.
A memória celular solta o brado descontrolado dos cios ancestrais.
Quem é esse que voa numa sabedoria ascensional no céu da carne
E absolve a virilidade que, no tormento, represa o caudal do afeto?
Mas ela permanece nua de punhais e vergonha e pudor e sedução;
Ainda em febre, ainda em fogo, ainda em pedra, ainda em espada,
Febril, ardente, rija, efervescente, em delírio e frenesi anunciados,
Retesada num êxtase imaculado, fértil na enxurrada de estrogênio.
As coxas, o dorso, a nuca, as nádegas, o ventre, os flancos, a anca
Estão paralisados, magnetizados, em estupor caótico, sub judices.
Nada pode indeferir o cavalheirismo da mão que apalpa os suores
Híbridos com a umidade de um verão irrevogável, ora mais ainda.
Ele cava os desvãos musculares com a piedade dos servos pagãos
E ela berra por dentro, bem por dentro mesmo, pelo avesso, falida.
Plácida, não contrai a plástica, não eriça pelos - amada no desvelo.
A glória de pertencer
Não é louvor do elo,
Mas enlevo à mercê
Do que há de belo.

Senhorita, posso te ouvir? Por que a sua voz parece não obedecer?
Somos abençoados nesta noite em que os satélites são os corações,
Namorando de longe os enamorados, sem ventania, sem correrias.
Gostaria de apaziguar outros seres, mas é melhor cuidar só de nós
E depois dos nossos filhos tão amigos, então de quem canta de dor.
Aqui entre nós repercutem esses balbucios sentidos, e quero dizer
Que o amor é um sentimento político e social - a paz no horizonte!
Nosso poema ético vai buscar a fluidez matinal para chegar longe...
Amanhã, vamos ouvir as falas desobedientes, novas interpretações
Para os desejos que abrigamos aqui em todo o esplendor do celeiro.
As luas recônditas que atuam no interior das almas vão se ensolarar
Para que uma inédita cultura de erotismo influa no pessoal do beijo
Apareçam nas praças em alvoroço os casais que acharam o segredo
De passar horas e horas orquestrando brinquedos ternos da pulsão;
Violinos, harpas, pianos, tambores, flautas, violoncelos da paixão.

Desejos de oração
Corpos bem juntos,
É a lúdica religião
Do prazer a fundo.

Como uma nobre emoção de arte naïfe, afundam os dois náugrafos
Como gêmeos num útero que ainda gera o amor prometido às luzes.
A inocência dos botões desabrochando sem espaço faz osmose tátil.
Toda a carência de cada história comparece à receptividade mútua;
Sutil, por medo da barbárie que reflete no espelho de outras vidas,
Sonora, por influência das melodias que embalam a estética cênica,
Pulsante, por ter os corações fina vizinhança, no escambo do fluido.
Ninguém sabe de quem é este corpo siamês, mantendo identidades.
A volúpia é sim coincidência dos atores e se alimenta da dualidade
E eis que surgem simultaneamente fusão e distinção, nos passivos
Transfigurados sem intenção, egoísmo ou jactância já que é ânima
E não carne perturbada pela paixão que ignora as regras desse jogo.
Os sujeitos não existem antes do projeto, nem muito menos depois.
Senhorita, desculpa a fratura exposta, subjetividade que se desloca.
A troca do carnal com o terno faz ressurgir o que já fugiu de mim
Mas, por favor, o ideal está fora de nós, é mais que projeto de vida!

Num instante nu
E logo em gala.
Nudez não é tabu
Na voz que a fala.

Na clandestinidade, longe mesmo de teu nome e de teus existires,
Desce em ti uma presença de si poucas vezes instituída ao acaso.
Tudo o que se passa aqui entre nós diz respeito a toda a gente nua.
Nos afastamos para ver de novo se restou outro em algum de nós,
Face a face e cúmplices na esfera da fraternidade, na rica miséria
De não termos mais nem vestes rendidas pelos retalhos restantes.
Nos exilamos do reino onde naturalizamos a satisfação em férias
Que é para estremecermos na idolatria cheia de ternuras de adeus,
De pé, desfalecidos, eretos só por causa do olhar recíproco, ébrios
Tendo declinado dos vinhos, da uva e da folha da parreira, rubros
De um rubor de seda, elegante e indefinível recato, hino gestual.
Ali parados, como dois monumentos ao noivado, sábios da espera,
Até esgueirarem-se da espreita, vacilantes e enfeitados de gotas.
E ela treme, tirita de sexualidade tardia, pássaro sem plumagem...
Tanta sedução sem devoção, tanta vergonha vã, fins sem princípio.

Aqui pronto, livre,
Despeço-me hoje.
Passados já tive,
Amanhã é arrojo.

Vivemos num tempo onde não se constrói mais nada em comum.
Embaraça a escassez do humano nas tramas da intencionalidade!
Não me dirijo a gostar que me amem, e quem aqui se reconhece?
De outra forma me perturbo antes de fatores razoáveis do desejo.
Que rastros deixaram no chão do celeiro quem se deu até o gozo?
Não parece humano levar tão longe quanto possível tanto artifício.
Existirá um projeto deliberado para eliminar o direito à diferença?
Plano mórbido de calar o doido dom da doação que nos inventa?
Ninguém é a própria iniciativa, mas uma iniciativa é bom início.
Ninguém é a própria iniciação - o rito da alteridade desempata
Enquanto obra de luz que desata incessante, agenda sem datas.
Como construir juntos um mundo em que casais atuam sozinhos?
Cada um por si num jogo erótico de domínios imóveis e vizinhos.
Senhorita, por que não me disse que sua dor era maior que o estar?
Por que apenas não me implorou que eu cantasse pra você dormir?

Infestada de festa,
Fantasiada de dó.
A dor que resta
É que não era só.

Dúvidas que não resolveremos no reinado fugaz da lua coagulada.
Gratuita é a vida, e a verdadeira causa do amor está longe demais!
Então fugiremos das questões totais e das respostas banais de hoje.
Se encerrássemos cada jogada com uma declinação, quanto adeus!
Mas seriam despedidas insolúveis de quem se mutilou para não vir.
De tanto não gozar estamos partidos; e partimos finalmente de nós.
É para enxergar a ida que une, que nos afastamos nestes carinhos
Minando lentos da flor da pele como a fumaça que exala do suor,
Como o vapor cego da forma tão ímpar, e que já sabemos de cor.
Sacrificado no pano virgem, o servo dói ao se libertar de seu ego,
Sem indagações, interrogações, adagas, drogas e ferrões do verbo.
Tudo o que preparou por todo o tempo se perde dentro do coração.
Surpresas que novas se repetem tal como vêm inda mais do fundo.
Nenhum acontecer amoroso é antigo quando serve mais ao mundo;
Nada faz tão bem saber do que a intimidade que nunca está à mão.

Toda essa bondade
Que o amor apura,
Vejo com saudade
Do que não dura.

Num estado vítreo de saturação crítica, a razão sem caber tanto saber,
O humano, regozijando, vagueia para o vazio vasculhado por suicidas.
Crianças possuídas aprendem, de manhã, a conjugar o verbo comprar.
Jovens dóceis, à tarde vestem-se de donos, para domar e tomar posse.
Maduros em prantos, prontos para a vida, gozam à noite para procriar
Porque toda a satisfação está muito longe da alegria de seus encontros.
O mundo vai se enchendo de amantes que cospem fora seus encantos;
Amantes vão se enchendo de mundos ásperos, áridos, ácidos – grávidos!
Como transplantar no outro a vida que há no gozo que ejaculamos sós?
Viverá nas flores aquele que não soube dar? Só na dor de quem pede...
No desengano que fica como a saudade implacável das tragicomédias:
Este ardor de desfrutar o amor para usufruir daquilo que o antecede.
Será que todo esse vivo contentamento secretado faz ficar em segredo
Toda a vontade de sermos maior que nós mesmos num ato de sossego?
É esta reverência que remete à decência de abrir a porta ao peregrino.

Queira entrar,
Vou recebê-lo.
Quando viajar,
Vá com zelo.

Eu te incentivo, Senhorita, a me consumir imprudente e desenfreada
Todos os meus bens espirituais que disseminam caridade e compaixão.
Faço um apelo para que veja nesse esforço os excluídos e necessitados.
O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença, o desprezo, a alergia
Às qualidades humanas específicas que produzem em nós a imunidade
Da humanidade contra os mesmos vírus que contraímos no desamor.
Quero perguntar por que alegam não haver recursos para os famintos
Ao mesmo tempo em que produzem caudalosas fontes de gozo inútil,
Ao mesmo tempo em que investem no fim da fome de qualquer desejo,
A nos convencer de que a felicidade é o ponto final de toda inspiração.
Quero contestar que se vive para a morte e não para salvar das mortes
Aqueles que nem sequer podem dar em troca tudo o que lhes ofereço.
O melhor dos meus gozos é ser responsável por tudo e mais que todos,
Antes mesmo de me surpreender lidando com minha própria cortesia,
Antes mesmo de nascer na carne da minha mão todo o desejo do outro.

Sim, é bondade
Que chamamos
Aqui felicidade,
Gozo sem dano.

O deliciar-se com o corpo do outro-sexo pode ser mais que transa.
Pode ser o transe sem comando nem prévia direção, como se lança
A uma troca que é justiça de transcender o amor em favor da sorte,
Em nome da sina alheia de ser mais humano, sem que se importe
De ter algo a dizer além do ato de resgatar alguém da esterilidade,
Da imobilidade de coisa que reduz a nada quem está a seu dispor.
Há também um gozo na fala e no canto que faz da troca o clamor.
Se não fosse o poema já teríamos nos perdido na selva sem verde,
No céu sem azul, no mar sem água, no colo sem carne, sós e finitos,
Predadores do espírito, vorazes, acumuladores, anatomias à parte.
Não medir a diferença dos sexos, mas esquecer a atroz indiferença
Que degrada o sentido de levantar-se da cama em vez de se deitar.
Deliciar-se com o corpo do outro-sexo não é possuí-lo, é plantar
Como um jardineiro em terra estrangeira, árvores antes de sombras;
Flores, antes de aromas; grãos e sementes antes do sabor das polpas.

Natureza tão voraz,
Mudo de universo.
Quero voltar atrás
Mas já não peço.

Difícil mas não implausível será evitar as astúcias do gozo represado:
Ele sai na fala, cai na palavra dita nos olhos, e vai no alvo indigitado.
Terminamos por gozar de muitas formas e modalidades e contornos,
Ainda que renunciemos, mesmo que castrados - dá-se a contragosto.
Vaza desbaratado nas manhas de uma barbárie pura e pré-histórica.
Se antes vimos a falência do amor doação, ora vemos ser bem maior.
Como operar a virada ética do coito que é conciliação irreconciliável?
Aqui eu entrego ao Outro o gozo que luta para voltar à pré-alteridade.
Dele não tomo parte, renuncio na pulsão a este retorno que fiz eterno,
Sintomas inevitáveis nas alfombras periféricas, fora do jogo e do jugo,
Alquimia que processa o objeto indizível pelas carícias que eu nublo.
Se estamos aqui além do princípio de prazer e realidade, bem reduzo
A verdade analítica à pré-condição que também torna inefável o amor
Ao percorrer o caminho da união, egresso do fragor das falsas faltas,
Convocado à odisséia metafísica, em constante inquietude nostálgica.

Gozo de súdito
Nasce pulsão.
Vagueia vulto,
Volta canção.

Eis que Senhorita, em genuflexório, plena de pulsão, anuncia o repto:
"Sagro o cavaleiro na Ordem da Ética Sexual!". Não por norma jurídica
Pois justiça é o olhar coletivo medindo a virtude do ato de renúncia...
É preciso ter a idéia do perfeito para conhecer a própria imperfeição,
Meu lugar ao sol, toda a usurpação. Meu proveito como tua denúncia.
O servo desprovido deseja a profanação de suas misérias e vergonhas.
Outro enquanto Outro e o bloqueio de minha liberdade fazem triunfo.
Uma cadeia de terceiros formam a rede de redenção das alteridades,
Cada um justificando a própria existência preenchendo-a das demais.
A paixão de despojar-se da satisfação arbitrária tece a ordem ética,
Põe em xeque todos os poderes sem direito a largar-se às violências.
"Sagro o espaço de um ser que já subiu para libertar a sua liberdade!
Sagro a privação de ocupar este espaço e sagro ainda a dor do nada".
Implanta-se o rito: "Recite o silêncio enquanto resiste aos impulsos!"
Raia a hora de receber o indulto por tantas eras de êxtase convulso.

Trago a memória
Para não lembrar.
Entrego à história
Todo meu desejar.

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