domingo, 8 de março de 2009

A ELETROLA, A ÁRVORE DE NATAL E OS RATOS

Nós éramos classe média mal informada
de que o mundo é pobre.
De que havia neste mundo, longe de nós,
bilhões de doentes e famintos.
O mundo sempre será uma ficção!

Éramos poucos, coniventes.
Não usávamos cinto de segurança
mas ainda hoje amamos nos esconder
em carros e na velocidade.
Somos tantos, tantos quanto são os riscos!

A Terra era um lugar muito ruim de se viver.
Matava-se muito e sacrificavam animais
com sabor de crueldade.
Sacrificavam miseráveis também
mas tudo tinha sabor de tutti-frutti.

Matava-se muito em nome de nós
e nada víamos.
Hoje os frangos mortos têm hormônios
que matam mais lentamente que a fome.
A atmosfera têm gás
que sufoca mais lentamente que as câmaras nazistas.

Éramos felizes e alienados.
Quando os comboios fúnebres chegaram
e nos incluíram,
fomos contaminados por nossas próprias consciências.
Temos na memória que morremos
e nada podemos esquecer.

Como pode haver mistério
se o segredo que imaginávamos guardar um sol novo
escondia cegueira e cremação?
Andávamos soltos nos carros
mas o mundo não podia existir
nem para nós, nem para os pobres.

Nossos filhos ainda aproveitam a boa lembrança que temos
do tempo em que andávamos soltos nos carros.
Mas os filhos dos pobres do nosso tempo,
que não tinham eletrola,
acham que só podem ser felizes se comprarem um computador.

Pelo computador, todos vimos a miséria total,
a mesma consciência sem luz.
A eletrola era uma passagem para o sonho.
O computador, para o esquecimento
de um mundo que não nos deixa dormir.

Minha árvore de natal ficava guardada no meu avô.
Quando fomos pegar, só tinham as varetas...
Os ratos destruíram!
Perdia a paciência com os ratos não sonham...
Mas o mundo nunca foi um sonho!

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