domingo, 8 de março de 2009

O TEMPO ALHEIO DA EXISTÊNCIA

Não era isso o que queríamos dizer:
Ilusões, vaidades, e o vento que passa...
A vontade está por trás de toda Idéia.
Profanando, desvirtuando, infectando,
Justificando os fins dos velhos desejos,
Insepulto ofício sem saber que missão.

Os atos e suas intenções escorregam
Para dentro do coração transferido
Como se quiséssemos doar ao mundo
O órgão que sentimos, em nossa ferida,
Que falta ou que se degrada em lapsos
Nos organismos criados pela consciência.

Homens e mulheres em plena soberba
Tornam-se robôs da própria natureza,
Meros resíduos individuados, cidadãos
Em conflito de sentidos, leis e morais,
Que também nunca chegam, felizes,
A serem parte de um povo soberano.

Entorna sobre as ordens superpostas
Este caldo mesmo de indivíduos nus
Privando-se uns dos outros, decaídos
Embora continuem a se auto-afirmar
E a fingir que toleram o tempo alheio da existência.

Assim esvaem-se caprichosamente os ideais
De contextura humana e de reciprocidade,
Em nome da inviável barganha de amor,
Mas do amor que um leviatã de estimação
Subverteu por indomável ardor de expiar,
Quem sabe apenas uma curiosidade de olhar
O que tem no outro que ainda falta em mim.
(Despenhadeiro secular aberto a fórceps
Pela ânsia tardia de viver em coexistência
E ao mesmo tempo sagrar-se ao Absoluto.)

Confiança! Confiança!! Aturde a entrega
Que a necessidade e o acaso impõem solertes.
Não poderemos fugir das demandas cavadas
Que são extraordinários úteros que cobram...
Que voltam das auroras para exigir o soldo
Da luz vital que emprestaram aos entes tolos.

Pior que não somos frágeis nem vulneráveis.
Sofismamos a miséria ainda que miseráveis
Para que nos desculpem a falta de nobreza,
Desobriguem-nos de pálidas solidariedades.
Mas quem? Quem irá cair no conto do perdão?
Se cada um por si promove a mesma infâmia.

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