Textos Grávidos

    
Ciúme

      Nossos afetos foram moldados quando ainda não conhecíamos as palavras. Quando era boca, ânus, tato, visão e necessidades físicas...o que contava. E não a troca, a representação do mundo, a simbolização do amor, através das PALAVRAS. A criança tinha obstáculos para suas satisfações... Recalcadas muitas vezes por terceiros. Como se o terceiro nos excluísse. Mas o "terceiro", como o pai, a mãe, ou o filho, é a Justiça em nossas vidas, o limite do nosso afeto... Se não os houvesse, nosso afeto seria catastrófico. Sem limites, sem justiça, sem meio-termo, sem realização e finalmente...sem satisfação, engoliríamos nossa mãe e nosso pai. E eles acabariam. A fonte de nosso primeiro afeto secaria dentro de nossa barriga afetiva. Ter alguém que nos rouba a fonte de nossa energia - o pai, a mãe ou o filho - é a fonte do ciúme. Hoje, tudo mudou em nossas vidas - TEMOS AS PALAVRAS! Não só a boca, o ânus, o tato, a visão e as necessidades imediatas... Temos as palavras para jogar com o mundo. Nos enriquecemos! Podemos agora falar de nosso amor, de nossas frustrações, de nossas insatisfações... Isso muda tudo para melhor. Estica a nossa satisfação porque nos permite DOAR MAIS. E receber doação infinitamente mais. O ciúme passa a ter a mesma origem do prazer. E o prazer, a mesma origem do ciúme. O ciúme deixa de ser exclusivista e a gente aprende a dividir. Na vida, não há coisa melhor e mais terapêutica. Porque nada é nosso. Tudo está à mão para que todos se satisfaçam! Porque o coração da gente é iridescente, poligâmico, polivalente, generoso e carente... E poligamia não é suruba.