terça-feira, 10 de março de 2009

A NOVA LEI DAS MATÉRIAS

Os escolásticos que me perdoem,
Toda coorte de escravos de Kant
Mas a erudição e a consciência
Promulgam, sim, leis diferentes
No corpo, na matéria, e na linfa.

A educação em direitos humanos
É a criação de aberturas corporais
Vivências do puro resistir da alma
Às frias, ideais e vãs congruências
Do filósofo que recusa o despudor.

Cânceres são linguagens de mudo,
Mutilações de quem se normatizou.
O espírito apodrece nas logorréias
Porque foi suplantado nas certezas
Quando podia ser o sopro do corpo.

O crepúsculo do dever abriu vazios
Onde já havia abismos incompletos.
Não chegamos a nos ver indivíduos
E estamos sós apenas como pessoas.
Sempre a falsa luta pela autodefesa.

Rasgar a carne nas conscientizações
Não é um imperativo mas é honesto
Com a história humana neste mundo.
Os poderes das instituições vigoram
Nos projetos de libertação narcísica.

De um lado novos esclarecimentos,
De outro desprezo pela encarnação.
É dizer que precisamos de gozo e fé
E também de satisfações particulares.
Nada que nos esterilize a alteridade.

A consciência mora no corpo e é ele
Que inaugura cada fenômeno vivido.
Cuidar de uma nova lei das matérias
Não é limpar o sangue que extravasa.
É deixar o pensamento escalavrar-me.

E depois dar ao outro tudo que penso
Para que seja livre de peso meu saber.
Englobar e reter pressupõem segredos
Que só poderei doar nas confidências.
Só confesso o que guardei mesquinho.

Violência no compartilhar, a confissão
Já é ruptura da fisiologia sem janelas.
Se, de outro modo, cinzelar o corpo
Com a arte de uma filosofia que zela
Terei ficado inteiro logo ao me repartir.

Um corpo que não precisa se entupir
Com o pensamento de pensar o tudo.
Dele germinará o mais fino espírito
Que estava exilado quando dividido
Para servir a Deus e ao corpo egóico.

Por isso a dor quando tenho de dar,
Por isso a tola perseverança no ser.
A personalização exacerbada e crua,
Que azeda insípida, mofa intragável
Sem o tempero e sem o fogo da vida.

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