domingo, 28 de março de 2010



TABAPUÃ

Tem um lugar no meio do nada
onde há tudo que a vida requer:
calor, praça, lonjura, espera, paz.

Espaço oco que serve de ninho
para o sol por seus ovos de luz,
chocar filhos de energia mansa.

Onde quem está quer sair,
quem entra quer ficar...
e pode ser a mesma pessoa.

Onde está quem nunca foi,
que viria pra sempre depois,
mas foi ficando, permaneceu.

Neste recanto plantaram ruas,
semearam quarteirões e casas,
para que habitantes florissem.

Protegendo a cidadela, as canas
doces, bois inermes de guampa,
dóceis, e da cor da paz ecológica.

Em vez de mar, canavial bravio.
Como ilhas, seringais sombrios.
Farol? A luz de quem vem longe.

Todos são paragens sem saudade.
Palmares de Zumbi, ou Macondo
de Cem Anos de Solidão, pronto:

Temos mais que Maracangalha.
Temos Conselheiro no próximo.
Vive-se fraternidade de Canudos.

Cada qual no fundo tem um lugar
Que um dia emerge e se espalha,
Para os lados, para cima e abaixo.

Era fantasia e hoje, mais que real,
Toma conta de muitos dos avessos
que escondemos a qualquer preço.

Precisamos deixar o coração levar
A carne que nasceu numa origem,
O espírito que navega sem zarpar.

Num breve acaso, mais que mero,
Encontramos sem pressa o rumo,
Começamos tudo de novo, do zero.


(Foto da Fazenda Água Milagrosa: Rogério Dutra Pereira)

quinta-feira, 25 de março de 2010

ESTAR VIVO É BUSCAR PERGUNTAS

O que buscam os cavalos
arfando na colina, com os olhos cheios?

O que buscam as nuvens
que pareciam ignorar os cavalos?

E quando as nuvens desabam
e encontram os cavalos distraídos...?

Assim será enquanto arfo inundado
por esse às-pazes de potências.

Estar vivo é fazer perguntas.
É buscar fazê-las em paz.

Deixar de correr atrás da poesia
para que as nuvens encontrem,
sossegadamente, os cavalos.