sábado, 7 de março de 2009

ROÇAS DE VOLÚPIA

A palavra rouba do silêncio os sentidos
E vai escondê-los bem longe das bocas
Na reticência vai fazendo-se de pouca
Para deixar o coração falar mais baixo
No sussurro e no murmúrio dos amores.

Disse que nos amamos pelas memórias
Como irmãos imprudentes, impudentes
Lado a lado pelos vergéis, enamorados
Escrevendo com os corpos na paisagem
A nova história, profundamente singular.

Aos quatro anos praticamente andava nua
Curiosa de suas origens, de como foi feita
Onde havia nascido a sua identidade órfã.
Virados do avesso nas mesmas memórias
Gêmos univitelinos que foram apartados.

O par perfeito se reuniu no meio da vida
Em tarde desfeita de vãos contratempos
Numa tardia colheita de cheiros e tatos.
Foram lá na moita recuperar os caroços
Os sabores e a astúcia rota do silêncio
Pra se ensaboar na volúpia das roças.

Foram se dilatando na feira de promessas
Que se forja nos princípios verbais atônitos
Foram se entranhando agônicos e dispersos
Como alienados em hospício pegando fogo
No prelúdio desandado das bandas novéis...

E desembarcam em continentes celestiais
Onde a hora passou os anos em segundos
A não haver mais constância nas badaladas.
São tais sinos que despencam das ogivas
Em missas turbulentas de catecismo laico.

Minas múltipla que arfa nas onças feridas
Atropelando os ritos na tocaia estabanada
Mas que não esquece de avisar que partiu
Grifando com as garras as turfas úmidas
Gritando desamarrada a ode das rebeladas.

Aqui estão os mesmos micuins a flagelar
As mesmas lagartas imprecisas a queimar
Ares, temperaturas , atmosferas serranas
Os mesmos besouros na varanda deserta
Os mesmos cavalos a esmo na madrugada.

As vacas, os doces, o idioma aldeão tosco
De sotaques, prosopopéias, áridos timbres
Sons que respiram como falas iridescentes.
Preciso matar a charada das existências
Porque é melhor explicar tudo de uma vez.

Preciso ouvir-nos pisando a relva mascada
Chupando jabuticaba tenra, as manivelas
Da máquina que mastiga as canas verdes
Guinchando na rima dos porcos sangrados
E a garapa lavando providente as vísceras
Secas de doçura das poesias sumarentas.

Preciso caminhar sobre a água do riacho
Desnivelando meus passos de messias
Na abruptidão inadvertida do seixo rolado.
Preciso levar a minha palavra forasteira
Pulando pinguelas sob o temporal feroz...

E chegar à palhoça atolando em espíritos,
Cercar-me dos tipos mochos de antanho
Que disfarçam com muxoxos a sua dor.
Com o enigma da esfinge eu já me assanho!
O mineiro finge adivinhar o que já sabe.

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