terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

SETA TURCA
(permanecimento)

Do alto do corcel, tocha em riste,
Cresce para o céu a nova Anita,
A desbravadora das camadas tântricas.
Faz punção de aventuras no destino.
Na sela pôs colares e guirlandas
Porque precisa descansar da sedução
Para conquistar a pradaria estelar.
Veste somente uma túnica de finas nuvens.
Jogado sobre as costas, o embornal
Onde guarda as setas turca e as tâmaras.
Ninguém resistirá à sedução da sua paciência,
Tão fragilzinha, tão pequena, tão risonha,
Tão devastadoramente atuante.
O PRANTO DAS ÁGUIAS

Não deu para ir ao Paraíso.
Estou juntando os trapos,
e os equipamentos de viver.
Vou partir da cidade,
e choro muito o pranto das águias.
Possivelmente terei condições bem mais incômodas
de passar os meus dias,
mas essa situação é temporária
- uma parada supersônica para a transformação.
A reflexão é melhor do que o impulso,
mas a ação é melhor do que a reflexão.
Ação transformadora - o vôo!
superando filosofia e paixão.
A ética da responsabilidade
está presente na estrutura da consciência
e a paixão na do amar.
Desfraldo-me no seu lábaro
e respiro o bálsamo que trouxe do Paraíso
na mais recente conexão.
EXISTÍ-LA

Existir esta mulher.
Existir sua independência.
Existir o vir de longe,
De onde o destino se esconde.

Existe-a, existo-te, exista-lhe.
Até esfarelarem-se os propósitos,
Esta mulher torna-se o depósito
De meus complexos detalhes.

Minha vida sendo sua exterioridade,
Repleta da essência que extravia,
Remetente dos sentidos que me instalam
No endereço que lhe cabe.

Existir essa transferência
Do morar e do morrer em mim,
Como atitude de espera de que precise
Da lacuna onde toda existência é crise.

sábado, 20 de fevereiro de 2010



ESCUTA
para Tatiana

Menino, se você me ouve,
Tira a prova dos nove:
Qual é o tamanho do desejo?

Menino, você já nasceu
Neste ventre verde ou
Nasce enquanto vivo?

Sua pequenina proporção
Me faz viajar pra fora
De todos os distúrbios.

Quando estiver sentindo
Os pensamentos de água
Estaremos mais perto...

Próximos de um lugar melhor
De um coração de pássaro,
Das asas de quem te desejou.

Menino, que saudade de você,
E da sua inexistência teimosa.
Por que o mundo não te chama?

Desencarno meu otimismo
Do corpo torturado.
Descolo minha alegria da pele renegada.

Desgrudo minha força
Do sangue despejado
Sem a vinda de sua vida.
Se me ouve, pisque uma luz.
Ah, eu já te vejo...
De fato você é um farol!

Será bom quando ouvir
O mundo clamando por ações.
E ele já te chama por mim.

Vamos morar no ventre da mata.
Vamos construir uma sede nova
Para os rios e as cachoeiras.

Vamos ter sede de solidariedade
Junto de muitas mães como a sua.
Depois comer o pão da generosidade.

Fique por enquanto sereno.
Já já ligaremos os corações,
E sairemos amando pelo pasto.







FADAS DE JULHO


A vida se encolhe
No fundo da noite
Diante do mar escuro,
Conchas fazendo barulho.

A quantas anda a Terra pequena
Que avistamos com a lupa?
Fadas de julho,
Do nada surgem as Anas.

De almas doces, amenas,
Na garupa das ondas,
Uma a cabana da outra,
Como pérolas em casulos.

Tão difícil é viver!
Que ninguém se esconda,
Que ninguém se encolha.
Sejam verão neste inverno!

Sol trincando o chão de folhas,
De azul-eterno é este apego.
Tudo tão pequeno, tão extremo,
Mas nada nos tira daqui.

De que vale isto mesmo?
Talvez seja como um prêmio
A procura obscura
Do amor que não vemos.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A MEDIDA DO AMOR

Será possível pesar o amor,
medir suas medidas?
Como saber quem amamos mais,
aquele que mais ama?
Porém, a frágil e sublime importância de viver
mede-se assim: pelo amor.
Esta é a autêntica identidade, e cada um tem a sua.
Assim como resgatamo-nos na figura amada,
há o resgate dela quando disto se apercebe.
Humildemente, só há amor quando o próximo apela
na obra que é presença, e que se chama Identidade.
A medida - conclui-se - é nos salvarmos
para que o outro continue a poder salvar-se em nós.